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Monte Verde: um quadro de descaso e negligência 

A Praia do Monte Verde está, há largos anos, mergulhada numa crise ambiental que resiste perante um estado de passividade governamental. A reiterada interdição a banhos fruto da contaminação microbiológica das águas é uma tragédia anunciada, resultado das persistentes e ilegais descargas de efluentes provenientes do sector pecuário e de explorações agrícolas – uma realidade que compromete directamente a realização de actividades por parte das escolas de surf, bem como a saúde da população e dos banhistas, tendo, estes últimos, já necessitado de assistência médica devido a problemas gástricos e de pele. 

A par disso, o cheiro nauseabundo que se prolifera pela zona pressagia um problema maior que evidencia o desrespeito pelo direito à saúde pública, ao espaço comum e à dignidade ambiental – preocupações que foram, inclusive, manifestadas pelo PAN/Açores aquando do debate da petição ‘SOS – Praia do Monte Verde’ – um clamor de quase 800 cidadãos que legitima e reforça a urgência de actuação, fomentado pelo movimento SOS Monte Verde que encarna esta luta, propondo soluções efectivas que devolvam a praia a quem lhe pertence e acabem com a degradação deste local, transformado num autêntico esgoto a céu aberto.   

A exclusão desta zona balnear na lista de águas costeiras de 2024 foi, por isso, uma consequência lógica, profundamente lamentável, que fez ecoar a necessidade de eliminar de forma definitiva a descarga de efluentes nas ribeiras Grande e Seca e na Levada da Condessa, a penalização dos infractores, o aumento da fiscalização, a realização de análises semanais à água e a classificação da Levada da Condessa como património municipal – conforme, aliás, intenções manifestadas pelos peticionários – com o intuito de extinguir este drama ambiental e elevar o Monte Verde a Bandeira Azul. 

Neste contexto, é relevante destacar que o PAN/Açores apresentou uma proposta de alteração ao Orçamento para 2025 que previa o levantamento das zonas com necessidade de ETAR’s – uma solução preventiva que poderia, neste caso, mitigar o problema de contaminação na Praia do Monte Verde, por intermédio de uma resposta sustentável?e?eficaz, mas que foi chumbada pelo Parlamento. 

A Praia do Monte Verde permanecerá, por agora, enquanto símbolo da luta entre o direito à natureza e os abusos de quem a contamina, à espera de um futuro que se pretende limpo, seguro e livre, fruto da persistência de quem por ele luta.