As alterações climáticas representam uma das maiores ameaças que a humanidade enfrenta atualmente. Os incêndios florestais, as ondas de calor e a intensificação de fenómenos climáticos extremos testemunham a crescente urgência em adoptar práticas para o combate às alterações climáticas em todo o mundo. No entanto, ao analisarmos o desempenho dos Açores, uma região que depende directamente do meio natural e da sua biodiversidade, é alarmante constactar que o seu compromisso com a acção climática tem sido deveras insuficiente.
De acordo com uma avaliação da Plataforma ODSlocal, que analisa o desempenho das regiões e sub-regiões portuguesas, a Região Autónoma dos Açores foi a única que apresentou resultados negativos nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) no que concerne à Acção Climática. Esta meta mede-se pelo cumprimento, ou não, dos 17 ODS estabelecidos pelas Nações Unidas, onde se inserem áreas como a Educação, Saúde, Sustentabilidade ou Protecção da Vida Marinha. Estes objetivos são vistos como um importante esforço no combate às alterações climáticas e ambientais, para as quais os Açores pouco ou nada têm feito – aliás, o próprio Secretário Regional do Ambiente admitiu que “Os efeitos das alterações climáticas já se têm feito sentir de forma evidente nos Açores, nomeadamente através de eventos climáticos extremos que deixam grandes rastros de destruição e prejuízos socioeconómicos.”
Sendo esta uma Região onde impera o turismo de natureza, parece-nos mais do que necessário que o Governo adote boas prácticas ambientais e cumpra os objetivos com os quais se comprometeu. Importa lembrar que, ao cumprir com essas metas, estamos também a contribuir para a sustentabilidade da Região e para a diminuição de eventos climáticos que nos assolam todos os anos.
Em 2021, 22 milhões de pessoas viram-se obrigadas a abandonar as suas casas devido à crise climática e a tendência é que esse número venha a aumentar nos próximos anos – de entre as causas estão a subida do nível médio da água, as vagas de calor, a seca ou os terrenos inférteis para a agricultura. Como podemos nós permitir que existam refugiados climáticos? Esta situação leva-nos indubitavelmente ao impacto das alterações climáticas relacionado com as questões de género. Infelizmente, é sabido que hoje em dia muitas das tarefas e cuidados familiares são ainda assumidos pelas mulheres. Ora, ao sermos vítimas de intempéries ou vagas de calor que prejudicam a saúde física e mental, as mulheres terão encargos adicionais, para além de possivelmente terem mais dificuldade em recuperar os seus bens devido à disparidade salarial que ainda se verifica.
Também de forma desigual são sentidas as alterações climáticas nos vários locais do mundo. Regra geral, as comunidades que mais sentem os efeitos da crise climática são as que menos contribuem para ela.
Regressando a Portugal, assistimos esta semana a uma audiência que decorreu no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos após seis jovens portugueses terem processado 32 Estados por inacção climática, onde se inclui o nosso país.
Dito isto, as alterações climáticas exigem uma acção coletiva e imediata por parte dos governos. Reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, apostar em energias renováveis e acelerar a transição digital são aspectos cruciais no combate a este desafio global. Os governos têm o poder e a responsabilidade de adoptar prácticas e políticas que protejam o nosso planeta e garantam um futuro sustentável para as gerações vindouras.