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Grande Festa da Tortura

Tauromaquia: uma prática, que nos transporta para tempos em que a humanidade ainda não havia descoberto a empatia. Nos Açores, a tradição ergue-se como um farol de cultura e identidade, ou assim o afirmam os “entendidos” na matéria, que se recusam a abrir os olhos para a realidade sinuosa que se desenrola diante dos próprios, e este ano não foi exceção. Assistimos, uma vez mais, a exibições grutescas de poder desmedido, num duelo imposição vs escolha. 

Por um lado, quem de livre e espontânea vontade decide alimentar uma cultura de violência e desrespeito pelos animais, quer activa ou passivamente. Por outro, o touro, um ser senciente que apenas deseja viver em tranquilidade no campo, é enjaulado durante largas horas sob temperaturas extremas, sem água nem comida e forçado a enfrentar o inevitável: o stress, o medo, a dor, o sofrimento e, muitas vezes, a morte. 

A época tauromáquica deste ano condenou, uma vez mais, centenas de animais à tortura, agonia e tormento, em forma de glorificação do sofrimento animal e da dor como deleite de um público que, consciente ou inconscientemente, coloca em risco a sua saúde e integridade física. Ademais, um aspeto que frequentemente passa despercebido prende-se com a irresponsabilidade de arrastar crianças para estes espectáculos, expondo-as precocemente a cenários de violência e sofrimento animal, que moldam as suas percepções sobre a vida e o respeito pelo próximo.  

Não foram poucas as notícias que nos chegaram de pessoas gravemente feridas durante eventos tauromáquicos, culminando inclusive na morte de duas, nem tão poucos os casos de maus-tratos animais. O mais recente e chocante episódio, amplamente divulgado nas redes sociais e prontamente denunciado pelo PAN/Açores aos órgãos de polícia criminal, vitimou um touro em plena “praça pública”, sob o olhar de uma plateia fervorosa. A esta vítima somam-se todas as outras que a tauromaquia já motivou, para mal dos “entendidos” que as negam ou omitem. Com a diferença de que assistimos ao crescendo da contestação da sociedade civil que cada vez mais se distancia e condena estas práticas. Hoje estamos mais perto do fim da tauromaquia do que estávamos ontem. 

É, para nós, simples compreender que não há lugar para visões heterogéneas no que concerne à tauromaquia e ao bem-estar animal. Esta é uma causa enraizada na nossa matriz identitária e pela qual lutaremos até que a última gota de sangue seja derramada e que a concepção de cultura não mais se coadune com o fomento de espectáculos sanguinários de dor e sofrimento, mas sim com o amor e respeito pela vida e, em particular, pelos direitos dos animais. 

Até lá, ansiamos o dia em que possamos olhar para trás e perceber que a tauromaquia não é uma festa, mas sim um lamento pela falta de consciência humana e continuaremos a dançar no fio da navalha entre a tradição e a barbaridade, sempre com um sorriso irónico no rosto, enquanto os touros pagam o preço da nossa falta de empatia. Bravo!