Quando Trump mencionou a possibilidade de reivindicar territórios como a Gronelândia, Canal do Panamá ou Canadá, e alterou o nome do Golfo do México, a reacção global flutuou entre risos (nervosos) e preocupações com a segurança interna e global.
A Gronelândia e o Canadá possuem identidades culturais e políticas próprias, pelo que, qualquer reivindicação ignora o direito à autodeterminação dos povos que ali habitam, representando uma forma de imperialismo moderno, que contrasta com os valores democráticos que muitos países defendem – outrora defendidos pelos EUA?
Qual a moral para mediar as “negociações de paz” entre a Ucrânia e a Rússia, quando se está disposto a incorrer numa invasão bélica para anexar territórios que não lhes pertencem? Então e se a China invadir Taiwan?
Consideraremos um cenário hipotético: e se fossem os Açores? Região autónoma do país com as fronteiras mais antigas do mundo, isto é, Portugal, com um forte sentido identitário, mas com um papel geoestratégico determinante – com uma base militar americana, dotada de grandes riquezas minerais nos seus leitos marinhos, legalmente protegidos. Não nos podemos esquecer que estamos a assistir a uma verdadeira corrida mineral, que permite aos países cimentar lugar na vanguarda tecnológica e liderar esta incursão comercial.
Somos cobiçados, sobretudo num cenário de ascensão da extrema-direita em Portugal, com políticas de nacionalismo exacerbado e uma retórica anti-globalização?
Encontrar-nos-íamos perante um capitalizar da situação por parte de um alegado defensor da soberania nacional contra uma suposta ameaça externa de um republicano que se vangloria, galvanizando o apoio popular e reforçando a sua posição no espectro político regional? Ou utilizar-se-ia a reivindicação de Trump como forma de se legitimar as próprias políticas de anti-imigração e anti-globalização, enquanto bastiões da resistência contra a “ameaça americana”? Legitimar-se-ia uma usurpação semelhante à da Gronelândia, ou aplicar-se-ia dois pesos e duas medidas?
A história já nos mostrou que as ambições territoriais podem resultar em consequências devastadoras, com implicações para a segurança europeia e global. A propagação de ideias nacionalistas pode até encontrar terreno fértil numa parte da população influenciada por discursos populistas – no entanto, uma tentativa de revindicação dos Açores enfrentaria grande resistência?
A polémica em torno das reivindicações territoriais de Trump são um reflexo das tensões geopolíticas e das ideologias extremistas emergentes. A possibilidade de uma reivindicação dos Açores ilustra a necessidade de vigilância e crítica ao nacionalismo exacerbado e à retórica populista. A soberania dos povos deve ser defendida com firmeza, e o futuro dos Açores deve ser sempre decidido pelos seus habitantes, e não por ambições políticas de líderes que veem o mundo como um tabuleiro de Monopoly. A história não deve repetir-se, e a luta pela autodeterminação e pela dignidade dos povos vale sempre a pena.
