A SATA Air Açores, ou a “SATA pequenina”, como é carinhosamente apelidada, é um instrumento que há décadas garante a coesão territorial, as ligações inter-ilhas e sustenta empregos directos e indirectos. Perdê-la significaria empobrecer ainda mais a mobilidade dos açorianos, aumentar custos logísticos e pôr em causa serviços essenciais.
Não obstante, o Grupo SATA, especialmente a SATA Internacional, enfrenta, há muito, uma encruzilhada financeira e política que ameaça a sua existência – entre uma frota envelhecida ou mal dimensionada, rotas deficitárias e custos operacionais elevados – e o recente empréstimo de 20 milhões, contraído pela Air Açores com aval do Governo Regional, para apoio à tesouraria (julga-se que para pagar créditos devidos aos colaboradores), é um sinal de que a companhia está a sobrevoar uma linha ténue que a separa da insolvência, colocando em causa não apenas a liquidez, mas a sua capacidade de continuar a operar sem comprometer, ainda mais, os cofres públicos, com prejuízo para os contribuintes.
Em 2024, o Grupo SATA acumulou prejuízos de 82,8 milhões de euros — mais do dobro do ano anterior. A Internacional foi responsável por 71,2 milhões desses prejuízos, enquanto a Air Açores registou perdas de 11,6 milhões.
Estamos a sacrificar a Sata Air Açores e com isso a mobilidade inter-ilhas da população açoriana?
É aqui que o “efeito contágio” se pode tornar preocupante. A fragilidade da Internacional, actualmente em processo de privatização, pode arrastar consigo a SATA Air Açores, cuja missão é pública: assegurar a mobilidade inter-ilhas, encurtar distâncias e garantir que a população açoriana não permanece isolada por razões meramente geográficas.
Assumir este risco financeiro é jogar uma cartada política de alto custo: um acto de fé ou uma bomba-relógio? O futuro próximo dará resposta.
Não havendo uma separação clara entre o que é estratégico e o que é comercial, arriscamo-nos a perder a SATA Air Açores, que não pode ser tratada como uma subsidiária de uma empresa em colapso – precisa de uma estratégia própria, sustentável, com financiamento público transparente e objectivos definidos. A missão desta companhia, que é nossa, é demasiado importante para ser sacrificada em nome de uma reestruturação que, até agora, tem sido mais remendo do que solução.
Salvar a SATA Air Açores é preservar um instrumento de coesão, identidade e dignidade para os Açores – e isso exige coragem política, rigor financeiro e, acima de tudo, visão?estratégica.
Está em jogo a manutenção de um serviço público essencial e o futuro económico dos Açores, que deve ser defendido com exigência, transparência e visão estratégica, transformando um socorro pontual numa transição para um modelo sustentável. Caso contrário, o risco não será apenas financeiro – será perder, gradualmente, parte da autonomia que nos define.
