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Talvez o silêncio seja o indício da resposta que não queremos ouvir

Ernesto Morais

As questões ambientais e de defesa do ambiente estão cada vez mais na ordem do dia, porque vivemos um período em que precisamos, urgentemente, de combater as alterações climáticas e também porque a população em geral está cada vez mais sensível ao tema.

Antes de mais, referir que sou um defensor das ciclovias. Não critico de todo a sua construção. Uma cidade como Espinho, com uma dimensão territorial reduzida e com as características de terreno praticamente plano, deveria ter um plano global e integrado de ciclovias. Os modelos mais avançados de mobilidade urbana incluem as ciclovias, no mesmo perfil da estrada, e também largos passeios para utilização pelos peões. Esse deve ser o princípio: retirar espaço aos automóveis, promover a utilização de mobilidade suave e proporcionar um maior espaço público para usufruto do cidadão. 

Enquanto Espinhense gostaria que, da parte do executivo, houvesse uma maior sensibilidade ambiental e tivesse também em conta toda a agitação popular provocada por este enorme abate de árvores adultas e aparentemente saudáveis. Bem sei que noutros tempos, outros executivos, cortaram também dezenas de árvores. Mas um erro não justifica o outro, e deveríamos todos reflectir sobre ele. Alias, o número de árvores na cidade tem vindo a reduzir-se drasticamente nos últimos 15/20 anos, o que se lamenta.

Não basta olhar ao aspecto estético. As árvores inseridas em meio urbano desempenham funções muito importantes na qualidade das cidades, que muitas vezes passam despercebidas. Promovem uma redução da poluição do ar, reduzem o calor das ruas e aumentam a qualidade de vida dos cidadãos. São um elemento fundamental no combate à crise climática que vivemos, na promoção da biodiversidade e cuja presença no espaço público aumenta o conforto e valoriza a cidade. As árvores são património natural, que todos devemos preservar! A sua importância nas cidades é inquestionável.

Sobre o abate realizado, referir em específico que estas árvores pela sua idade, porte, copa e folhagem tinham uma enorme importância pelas funções ecológicas que desempenhavam. Com esta acção de corte de árvores estamos também a promover uma mensagem de desrespeito pela natureza, ausência de preocupação perante árvores adultas com décadas de existência, algumas com mais de 60 anos. Deveria ter sido considerado como requisito ao projecto a coexistência de uso entre as ciclovias e as árvores. 

Relativamente ao comunicado da camara que justifica o abate das 131 árvores, além de tardio pois deveria ter sido comunicado previamente e não à posteriori, subsistem algumas dúvidas pois a explicação da doença das árvores não foi confirmada através da publicação dos relatórios fitossanitários, como seria de esperar. A tese de que as raízes estavam agarradas às canalizações também não foi sustentada pela apresentação dos vídeos que o executivo refere, sendo que neste caso, a nova canalização será construída em paralelo à existente e não por uma substituição directa. 

O comunicado confirma ainda que não existe um plano de compensação pelas árvores cortadas. Refere apenas que serão plantadas arvores e arbustos onde for possível. Seria uma boa oportunidade para quantificar essa plantação. Contudo, esse plano não foi apresentado, foi uma oportunidade perdida para repor e compensar, se tal é possível, as árvores cortadas.

Mais me preocupa a existência de outros projectos similares para outras vias da cidade, onde a manutenção das árvores pode não estar assegurada. Ainda temos os projectos da Rua 20 e da Rua 33. Qual será o impacto nas árvores existentes? A câmara pode assegurar que essas obras não irão provocar um corte de árvores massivo e indiscriminado como o já realizado. Conseguirá o executivo deixar essa garantia a mim e a todos os Espinhenses?

Conforme se verificou na última Assembleia Municipal (02/10/2020), talvez o silêncio seja o indício da resposta que não queremos ouvir.

Opinião de Ernesto Morais, membro do PAN Espinho, no Maré Viva

Artigo escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico.