AçoresDireitos Sociais e HumanosLocalidadeOpinião

1 ano de guerra na Europa. 1 ano de resistência ucraniana

O dia de ontem marcou um ano da invasão russa à Ucrânia. Há um ano assistíamos a algo que nunca verdadeiramente consideramos ser possível: a invasão militar de um país europeu democrático, independente e autodeterminado.

Há um ano assistíamos incrédulos, num estado de negação e renúncia, de como, em pleno século XXI, em plena Europa, uma situação destas estivesse verdadeiramente a acontecer.

Há um ano que soam os alarmes, que nos transportam para um passado europeu não muito longínquo, cujas memórias e cicatrizes dos intentos imperialistas e belicistas ainda estão vincados no coletivo de muitos e nas aspirações de alguns.

Há um ano que acompanhamos o desenrolar de uma guerra gerada com base em subterfúgios de um autocrata, cuja retórica dissimulada tenta justificar o injustificável e escamotear as suas reais intenções.

Mas também cumpre-se um ano que vimos a assistir à bravura e tenacidade de um povo que, numa disputa desigual e em claro desequilíbrio de forças e armamento, luta não apenas pela manutenção da independência e soberania do seu país mas também pelos mais básicos Direitos Humanos. 

Passado um ano, o povo ucraniano continua a demonstrar a sua resiliência e espírito combativo, não apenas nos campos de batalha, mas também nas ruas, ousando fazer frente a soldados e colunas militares russas.

A resistência militar, mas sobretudo a civil que os ucranianos têm demonstrado ao mundo são um verdadeiro acto de resiliência e determinação, de perseverança e de luta por princípios que todos nós, europeus, comungamos.

Em contraste, Putin está a provar que, para ele, na guerra vale mesmo tudo. Os atropelos aos princípios basilares humanitários, mesmo os que sobrelevam a um estado e situação de guerra, estão a ser diariamente infringidos pelo regime russo.

O bombardeamento de edifícios habitacionais, o bombardeamento de hospitais, o bombardeamento de edifícios governamentais, o incumprimento de cessar-fogo temporário para corredores humanitários, as ameaças e iminentes ataques a centrais nucleares revelam uma perversidade e desumanidade, que mesmo em tempos de guerra não são consentâneos.

Há uma ano que assistimos à destruição de cidades, à tentativa de quebra de um país, que se tem assumido como último reduto da defesa dos ideais europeístas e é porta-estandarte de uma Europa coesa e unida.

Há um ano que assistimos, na Europa e no mundo, ao ricochete da guerra e às repercussões indiretas que se têm gerado no plano económico, mas que em nada se compara com o que o povo ucraniano tem vindo a sofrer.

Há um ano que o povo ucraniano merece a nossa empatia, solidariedade e reconhecimento.

P.s. Este texto que agora escrevo é em muito semelhante ao discurso que proferi o ano passado, no plenário que decorreu passados treze dias do fatídico dia 24 de Fevereiro de 2022. E é em muito semelhante porque, passado um ano, permanecemos incrédulos perante um fim anunciado, mas sob o qual tínhamos esperança de que não voltasse a se concretizar no continente europeu. Porque passado um ano, os ucranianos mantêm-se determinados em defender e lutar pelo seu país. Porque passado um ano, Putin está longe do concretizar o que planeava executar em dias.