Num mundo em que o ritmo acelerado da vida moderna se confronta com a paradoxal epidemia da solidão, os animais – de estimação, de companhia ou de terapia — ocupam um papel que transcende o afecto: são aliados silenciosos e poderosos na promoção da saúde física e mental e, para muitos, parte integrante da família. São presença, afecto e rotina que nos devolvem sentido.
Os animais têm um valor intrínseco e um papel comprovado na promoção da saúde física e mental. Reconhecê-los como parte da família é reconhecer que o cuidado com o outro — humano ou não — enriquece a nossa existência e impacta de forma profunda o nosso bem-estar. A presença de um animal de estimação reduz a sensação de isolamento, oferece companhia incondicional e cria rotinas que trazem sentido ao dia-a-dia, com ganhos significativos para pessoas com perturbações de ansiedade, depressão ou em períodos de luto, representando um suporte estável e sem julgamento, que fornece conforto e promove a liberação de hormonas ligadas ao bem-estar, como a oxitocina. Mas mais do que conforto, a relação entre seres humanos e animais incentiva a responsabilização e o cuidado com o outro — elementos fundamentais para a recuperação emocional.
Benefícios que se estendem também à saúde física, estimulando a movimentação do corpo — seja através de passeios regulares, brincadeiras ao ar livre ou cuidados diários que exigem movimento e atenção. No caso dos idosos, por exemplo, ter um animal pode significar manter-se activo, com rotinas que combatem o sedentarismo e promovem a autonomia. Os animais são, em muitos casos, o único vínculo afectivo de pessoas que vivem sozinhas, funcionando como ponte para o mundo exterior. São companhia nos dias bons e maus, escuta sem palavras e afecto sem exigências. Não é exagero dizer que salvam vidas.
É por isto necessário repensar a forma como os vemos: não como propriedade ou entretenimento, mas como seres de afecto, com direitos, emoções e um lugar legítimo na nossa estrutura emocional. Uma mudança de paradigma que implica responsabilidade e se impõe cada vez mais nos dias de hoje.
Valorizar o papel dos animais na nossa vida é também valorizar políticas públicas que os integrem: hospitais públicos, lares que permitam a sua entrada, praias que lhes deem liberdade e apoios para famílias em situação vulnerável que não querem abdicar dos seus companheiros. Adoptar em vez de comprar, apoiar políticas de esterilização e acolhimento de animais abandonados, lutar por legislação que os reconheça como membros da família e promova o respeito interespécies.
Cuidar de um animal enquanto parte da família é promover uma sociedade mais empática, mais saudável e mais humana. E talvez seja essa a maior lição que eles nos dão: que o amor não precisa de palavras, apenas de presença.
