À beira de um abismo turístico 

O crescimento do turismo nos Açores tem acarretado sérios desafios, sobretudo no que respeita à segurança dos trilhos pedestres e à preservação ambiental.  

A práctica de actividades turísticas em trilhos não homologados ou temporariamente encerrados tem resultado em múltiplos incidentes, que, não raras vezes, obrigam à mobilização de meios terrestres ou aéreos, resultando em resgates dispendiosos e prescindíveis se cumpridas as sinalizações e orientações locais por parte dos visitantes, que colocam em risco não apenas a própria segurança, com também a integridade dos ecossistemas. 

Os trilhos pedestres são corredores de biodiversidade, habitats frágeis e património natural que não se regenera ao ritmo da chegada de voos low cost. O pisoteio fora dos trilhos, a perturbação da fauna e a erosão acelerada são consequências directas da pressão turística.  

 A recente iniciativa entregue pelo PAN/Açores, no Parlamento – sem esquecer o requerimento entregue ao Governo em Julho sobre a gestão dos fluxos turísticos – propõe medidas rigorosas para reforçar a segurança e responsabilizar os visitantes prevaricadores, através de um regime sancionatório para quem circule em trilhos não homologados ou temporariamente encerrados, do reforço do número de vigilantes da natureza, de campanhas de sensibilização e da aplicação de taxas às operações de salvamento em zonas de acesso proibido. 

Medidas que não devem ser encaradas como punitivas, mas sim preventivas, desincentivando a negligência perante a preservação da natureza – principal factor atrativo dos Açores – que se vê sacrificada em nome de uma exploração turística que, paradoxalmente, não reverte em benefício da sua própria conservação, conforme previa a taxa turística regional proposta pelo PAN, em 2022, cuja revogação constituiu um retrocesso que deixou a Região sem instrumentos eficazes para compensar os danos ambientais, perpectuando-se um modelo extrativo e desequilibrado. 

Dito isto, ignorar os riscos da pressão turística, sobretudo, nos trilhos pedestres é comprometer a segurança, a biodiversidade e a sustentabilidade da Região, pelo que a proposta do PAN/Açores vem devolver a responsabilidade de quem visita respeitar, de quem governa proteger e de quem reside merecer ver o seu património natural valorizado. Reforçar a fiscalização, penalizar incumprimentos e investir na sensibilização são ferramentas essenciais para garantir que o turismo não se torna inimigo da natureza, mas um aliado?consciente.