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Bolieiro na Região das Maravilhas

Pedro Neves - Opinião AO

Era uma vez um Presidente que vivia numa região muito muito distante da criminalidade violenta verdadeiramente assustadora e onde, ao contrário das grandes urbes do reino, os criminosos são de brandos costumes nas práticas ilícitas.

Na Região das Maravilhas não existe razão para alarme social, até porque isto seria contraproducente para consolidá-la como destino seguro e atrair turistas, logo quando se acaba de injectar mais 2,8 milhões de euros na sua promoção.

Na Região das Maravilhas, a criminalidade não é assustadora, mesmo quando os dados oficiais indicam um aumento de 7,6% da criminalidade violenta em 2021 (valores que apresentam uma tendência contínua crescente) e somos diariamente confrontados com notícias como: “PSP investiga assalto à mão armada no Calço da Furna”; “Homem detido nos Açores por abuso sexual de uma criança com 12 anos”; “Detido homem por tentativa de homicídio em Ponta Delgada”; “Homem de 21 anos detido por tentativa de homicídio na Ilha das Flores”; “Detido em flagrante delito alegado traficante e apreendida droga na ilha Terceira”; “Homem em prisão preventiva por violência doméstica contra a mãe em Ponta Delgada”; “Moradores queixam-se de aumento da violência em Ponta Delgada”.

Na Região das Maravilhas, cumpre-se, hoje, exactamente um ano da aprovação da iniciativa conjunta da Assembleia Legislativa Regional que recomenda ao Governo da República o reforço urgente e imediato de 200 efectivos das forças de segurança, para garantir a capacidade de resposta e um policiamento de proximidade.

Face à inoperância do Estado e escassez de respostas efectivas, existem já, nesta Região das Maravilhas, grupos de cidadãos que se uniram e estão a coordenar a protecção organizada da sua zona de residência, face às crescentes situações de desacatos presenciadas por falha de resposta do Estado.

Na Região das Maravilhas, o sentimento de insegurança é cada vez maior e mais generalizado e só quem não contacta com a população ou vive numa redoma de vidro consegue afirmar que não estamos a assistir ao crescimento da criminalidade violenta.

O Presidente da Região das Maravilhas cunhou a expressão “Antes excessivo na prudência do que negligente na ação”, socorrendo-se frequentemente desta para justificar a actuação governamental, mas deixa-a inaudita na abordagem a esta matéria.

Nem mesmo quando o seu próprio Palácio é alvo de tentativa de invasão e furto, o Presidente da Região das Maravilhas reconhece os contornos de uma problemática crescente e com propensão a agravar, minimizando as repercussões sociais de um problema evidente e mensurável.

Costuma-se dizer que em terra de cegos quem tem olho é rei, mas na Região das Maravilhas, aplica-se melhor o dito popular: o maior cego é aquele que não quer ver. E assim, em terra sem rei nem roque, os cidadãos da Região das Maravilha viveram inseguros para sempre. Fim.