A vitória do candidato Republicano Donald Trump à presidência dos Estados Unidos da América demonstra que a estrutura base das atuais democracias ocidentais está abalada e desatualizada. Esta não acompanha as necessidades dos cidadãos, nem tampouco lhes propõe modelos exequíveis de governação mais participativa e descentralizada. Esta frustração, na nossa análise, levou à eleição de um ator social mediático que, em paralelo e paradoxalmente não foi levado a sério pelos media, pelos diversos agentes sociais do país e mesmo pelo maior partido concorrente, o Democrata.
Mas o descontentamento das cidadãs e cidadãos e das comunidades pelo apelidado establishment era há muito visível. O mesmo levou à eleição do Syriza, na Grécia, ao voto do Reino Unido para sair da União Europeia, com o Brexit, e à subida nas sondagens de vozes de extrema-direita como Marine Le Pen, na França. Estes sinais indicam também que a democracia, mesmo em países que se assumem liberais e progressistas, deve ser reinventada e que a política da continuidade, do bipartidarismo, do status quo, do privilégio, da maioria absoluta, das elites instaladas deve desaparecer. A volatilidade destes sistemas democráticos está também ligada à participação, ou falta dela, no dia-a-dia político e social das democracias ocidentais. Veja-se as taxas de abstenção em todas as eleições, sejam municipais, regionais, nacionais ou mesmo transnacionais, como é o caso das Europeias. Estes sinais são agravados pela normalização do bipartidarismo, da corrupção, dos escândalos públicos, da promiscuidade entre atores políticos e corporativos, pela rápida massificação de desinformação ou de análises jornalísticas pouco criteriosas, o que leva ao descontentamento geral que se materializa nestas oportunidades, legítimas e democráticas, de mudar ou de romper de sistema pelo voto.
Pese embora todas as explicações sociais e económicas que possamos tecer sobre esta eleição, estamos certos que nenhum país sairá beneficiado com a presidência de um candidato que apoia uma posição meramente ideológica, republicana, de que as alterações climáticas são inexistentes. Consideramos que mais perigoso que não adoptar medidas realistas para a adaptação climática é negar à partida que tal facto científico existe. Atuaremos, em contraponto e na medida dos nossos recursos, no sentido de manter a Europa no caminho certo da descarbonização da economia, longe de energias baseadas em combustíveis fósseis ou nucleares.
É de clarificar que para o PAN nenhum dos candidatos oferece reais soluções para uma liderança global em termos de um novo paradigma que se dissocie da expansão militar, do controlo corporativo da política, da proteção dos ecossistemas, da urgente descarbonização da economia norte-americana e mundial, e que elimine, de vez, o antropocentrismo.
Como coletivo que premeia a não-violência e promove pontes de diálogo entre todos os povos, continuaremos abertos ao diálogo com as instituições e organizações sociais norte americanas na esperança de conseguirmos, coletivamente, equilibrar a balança que hoje foi tendenciosamente desequilibrada para o lado do nacionalismo, do racismo, da xenofobia, da misoginia, da homofobia e do especismo.