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O parente pobre

Hoje, mais do que nunca, fala-se, debate-se e salienta-se a importância da saúde mental, mas esta continua a ser, impreterivelmente, o parente pobre das políticas pública e de intervenção em saúde. Foi descurada e varrida para debaixo do tapete durante muito tempo, também fruto do estigma sempre a ela associado e que condiciona a ação de quem a deve promover.  

A pandemia de COVID-19 veio enfatizar a problemática da saúde e da doença mental e o actual cenário de detioração da paz mundial, da volatilidade dos mercados e da consequente crise financeira agravou o risco de pobreza, desigualdade e exclusão. Em consonância, tem sido linear o crescimento de perturbações mentais à escala global, fruto também desses factores exógenos.  

Mas esse aumento no diagnóstico de perturbações mentais não tem sido devidamente acompanhado na execução das políticas públicas de saúde mental, principalmente no campo preventivo. 

A pandemia veio ainda surtir uma alteração nos padrões de consumo de substâncias e nos comportamentos aditivos na nossa região, com um vertiginoso aumento do consumo de Novas Substâncias Psicoativas. 

O Relatório do SICAD sobre “A Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependências”, coloca os Açores como a região com maior prevalência no consumo recente e actual de qualquer droga, na população 15-74 anos, em 2021, e como o território com maior apreensão de novas substâncias psicoativas, representando mais de um terço de todas as apreensões no país.  

Assistimos ao agudizar de um problema de saúde, com um inegável impacto também na esfera familiar e social, que exige, cada vez mais, uma ação multidisciplinar concertada, mas que cada entidade tende a delegar a responsabilidade. 

Todas as pessoas que sofrem de perturbações psiquiátricas têm direito a receber os cuidados de saúde adequados e quando o Estado não tem capacidade para dar resposta, delegando a sua responsabilidade em instituições particulares, tem que assegurar que um tratamento e acompanhamento digno é prestado, com uma  

Recentemente, as Casas de Saúde Hospitaleiras dos Açores manifestaram os entraves financeiros que enfrentam e que comprometem a capacidade e qualidade dos cuidados prestados no âmbito da psiquiatria e saúde mental, fruto do subfinanciamento e da dívida milionária gerada pelo anteriores Governos e que a tutela se tem evadido de saldar.  

Ainda que se denote neste Governo alguma atenção e proactividade nesta matéria em ver sanada esta situação, a actuação será manifestamente insuficiente enquanto não houver uma abordagem holística. O sucesso das estratégias de combate à toxicodependência e programas de promoção da saúde mental, como aqueles que foram recentemente planeados pelo executivo regional, ficará comprometido enquanto não se trabalhar, também, os problemas de core, que potenciam a manifestação de muitas doenças mentais e problemas de adição, como a pobreza, desigualdade e exclusão. 

O trabalho a jusante é fundamental, mas seria menos oneroso, para todas as partes, se o investimento a montante fosse devidamente planeado e abrangesse todas as esferas e factores de risco.