AçoresDireitos Sociais e HumanosEconomia e FinançasImpostosJustiçaOpiniãoPANPessoas

Os açorianos não ganham o m² por mês 

Queda dos créditos à habitação, subida incessável das taxas de juro, m² a custar um salário, pessoas forçosamente retiradas das suas casas, reconversão de casas em alojamentos locais, protestos pelo direito à habitação: não é um filme, não é o crash dos anos 20, nem a troika – é o cenário que se vive atualmente em Portugal e que não tem fim à vista. 

Em tempos, considerávamos alimentação, saúde e habitação necessidades básicas para uma vida condigna – agora, ter uma casa e conseguir pagá-la pode ser considerado um luxo. 

Atualmente, é mais difícil ter uma casa do que na crise financeira de 2008. De acordo com o Serviço Regional de Estatística dos Açores, a remuneração mensal média por trabalhador em março de 2022 fixava-se nos 1.179 euros, sem dedução de impostos. Em Agosto deste ano, o preço do m² nos Açores era de 1.538 euros – perante isto, podemos afirmar que, nos Açores, o m² custa mais que um salário.  

Lamentável é constatar que o Governo Regional tem à sua disposição meios para colmatar essa carência e não os coloca em uso. Exemplo disso são os antigos complexos habitacionais da Força Aérea norte-americana, na Praia da Vitória, que foram cedidos ao Executivo em 2015 e estão deixados ao abandono quando poderiam servir de tecto para as famílias açorianas. Não são medidas “penso-rápido” que os açorianos necessitam, mas sim medidas concretas que criem condições habitacionais e de vida para a população. Para agravar a conjuntura, prevê-se que os preços das casas em Portugal devam aumentar 8% todos os anos, durante a próxima década. 

A nível nacional, entre 2018 e 2023 as necessidades habitacionais aumentaram entre 15 a 20 mil famílias por ano, sendo agora cerca de 86 mil as famílias que sofrem de necessidades habitacionais (falta de habitação, habitações sem dimensões apropriadas ao agregado ou sem condições de conforto apropriadas) – números que não diferem muito da realidade vivida nos Açores. 

Por isso, não causa espanto que seja cada vez maior o número de jovens que residem em casa dos pais ou se veem obrigados a partilhar habitação. Ainda assim, não são apenas os jovens casais ou as classes menos favorecidas que se veem a braços com este flagelo – atualmente, a classe média começa também a sentir consequências que serão inevitavelmente mais gravosas, uma vez que não estão abrangidos pelos apoios sociais do Estado. Neste momento, um agregado familiar com dois ordenados de 1200€ não consegue que o crédito seja concedido pelo banco para comprar uma casa dentro do preço médio nos Açores, que ronda os 249 mil euros. Se for em São Miguel, o custo médio dispara vertiginosamente.  

De acordo com o INE, entre 2015 e 2022 o preço médio da habitação subiu 90% em Portugal, enquanto que na Europa a subida foi de apenas 48%. O custo com a habitação, aliado aos custos com a saúde, energia, educação ou combustíveis traça o destino irrevogável dos portugueses: emigração. 

Posto isto, a questão que se levanta é: Onde é que isto vai parar?