Em 1822 foi apresentada uma proposta para o direito de voto das mulheres com seis filhos legítimos(!). A proposta não foi admitida à discussão pelo Parlamento, pois de acordo com o Deputado Borges Carneiro, “Trata-se do exercício de um direito político e deles são as mulheres incapazes. Elas não têm voz nas sociedades políticas”.
Quase um século depois, Carolina Beatriz Ângelo desafiou o sistema, votou e provou que a exclusão feminina era uma escolha política e não uma inevitabilidade. Mas foi apenas mais de 60 anos depois, a 15 de novembro de 1974, que as mulheres portuguesas conquistaram plenamente o direito ao voto. Por isso, hoje, em primeira linha, agradeço a coragem e resistência das mulheres que nos precederam e que permitiram não só o direito ao voto, mas o direito a estar aqui, onde estou neste momento. Mas, apesar de aqui estar, olho em frente e não vejo igualdade. Vejo que somos um terço desta casa. E mais do que isso, olho para o país e vejo que a luta das mulheres está muito longe de ter terminado.
Amanhã celebra-se o Dia Internacional da Mulher, e nada mostra melhor a necessidade desse dia do que fazer no dia de hoje 6 anos do dia de luto nacional em homenagem às vítimas de violência doméstica e às suas famílias.
Por isso, quando perguntam se ainda faz sentido celebrar o dia da mulher, gostaria de relembrar o seguinte:
No ano passado morreram 22 pessoas, 19 delas mulheres, às mãos dos companheiros. No ano passado, houve mais de 30 mil ocorrências de casos de violência doméstica. Falamos de mulheres assassinadas, espancadas, silenciadas dentro das suas próprias casas. Falamos de um sistema que não protege as mulheres nem nas suas próprias casas! Falamos – e bem – dos direitos que já alcançamos, mas o direito mais básico de todos – o direito a viver – ainda não está garantido para todas as mulheres. Por isso, sim, faz sentido celebrar o dia da mulher. Porque a luta das mulheres não terminou. Queremos igualdade, queremos mais mulheres na política, mais mulheres em cargos de decisão, mais mulheres livres, mais mulheres vivas.
Senhoras e senhores deputados,
Tomo de empréstimo as palavras de Simone de Beauvoir:
“Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre.”
Livres para votar, livres para ser o que quisermos ser!
7 de março de 2025
Porta-voz do PAN discursa na Sessão dos 50 anos do Direito das Mulheres ao Voto em Portugal
