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A oportunidade perdida da Europa

Uma Europa de paz, plural, pluricultural e de respeito pelo outro.

Há 150.000 anos a humanidade residia em África. Desde então houve deslocações colectivas de pessoas ao longo de toda a história, seja por causa de guerras, de conquistas, alterações climáticas, secas, fome, doenças, perseguições ou simplesmente na busca de uma vida melhor. Os séculos XV a XX da nossa era assistiram a movimentações de tal ordem que deram lugar a novas nações (e à destruição de outras tantas). Finda a segunda guerra mundial e no período que se lhe sucedeu, dezenas de milhões de pessoas foram literalmente expulsas das suas casas (ou do local onde estas existiam) na redefinição de novas fronteiras internacionais, sobretudo na Europa e na Ásia e estas foram as últimas grandes migrações que apresentaram números daquela grandeza. Mais perto de nós, durante as décadas de sessenta e setenta do século passado assistimos a uma lenta mas constante sangria da população portuguesa que tomava o caminho da emigração para diversos destinos: França, Alemanha, Luxemburgo, Suíça, Canadá ou as colónias de além mar, entre outros. Em diversos países foram recebidos com desconfiança, racismo, ódios vários, xenofobia. Em todos eles criaram raizes e riqueza participando na construção ou reconstrução das nações que os acolheram. 

Hoje, vivemos numa era de paradoxos. Nunca foi tão fácil viajar de um canto ao outro do planeta, no entanto nunca existiram tão poucos migrantes. Na verdade, por boas razões. Não havendo motivo para abandonar as suas terras, a maioria prefere ficar perto dos seus, perto do que lhe é familiar, perto daquilo a que chama de sua casa. Este imobilismo tem contudo os seus inconvenientes. As trocas genéticas diminuem e as populações tendem a ficar envelhecidas e estéreis. No extremo, corre-se o risco de não haver mais renovação da população com as consequências já conhecidas. 

É assim inacreditável ver uma Europa rica e envelhecida a ficar aterrorizada pela perspectiva de receber umas dezenas ou mesmo centenas de milhares de refugiados de guerra que trazem consigo os jovens e as crianças de que tanto esta terra precisa. Alguns trazem consigo toda a família, não esquecendo os animais. Diz-se que não há condições para os receber, que há desemprego, não há casas para todos, enfim, o costume. Será memória curta? No outono de 1975, numa Europa infinitamente menos rica do que hoje, houve um pequeno e paupérrimo país, com nove milhões de habitantes, envelhecido e inerte, acabado de sair de uma guerra de treze anos que lhe havia ceifado a juventude, com níveis de desemprego estrutural abismais, que recebeu de braços abertos mais de meio milhão de refugiados de guerra. Não faltaram os arautos da desgraça para preverem uma sobrepopulação e o agravamento da já má situação. Muitos se opuseram a que fossem acolhidos. Imperou o bom senso e deu-se início a uma operação de resgate por via aérea, ajudaram-nos a encontrar alojamento, abriram-se linhas de financiamento para criarem pequenos negócios e passados cinco anos eles estavam completamente integrados e haviam desenvolvido o país que os acolhera. Ajudaram a rejuvenescer a população pois tinham trazido muitas crianças. Tinham também trazido outros costumes e novas perspectivas, criando negócios que eram estranhos aos hábitos locais. Criaram imensos empregos novos e fundiram-se com a população local. ?Esse país chamava-se Portugal e os refugiados fugiam das guerras civis que se haviam desencadeado nas antigas colónias portuguesas em África e ficaram então conhecidos por retornados. Mas muitos não retornavam a parte alguma. Haviam nascido nas colónias e as suas ligações a este país eram praticamente nulas.? 

Tal não constituiu impedimento à integração. Será que os actuais dirigentes da Europa se lembram desse episódio? Porque será que ainda não perceberam que a Europa só tem a ganhar em acolher os refugiados e dar-lhes uma nacionalidade? Será medo? Ignorância? Talvez um misto de ambas. Também não fará sentido abrir as portas para receber os refugiados como tal, isolando-os em guetos, atribuindo-lhes subsídios e mantendo-os eternamente como estrangeiros. O seu acolhimento só fará sentido com a sua total integração económica, cultural e política. É preciso acolher famílias inteiras e dotá-las de todos os direitos e deveres dos demais cidadãos. A Europa precisa de sangue novo, de genes novos e até de visões novas. 

O PAN – Pessoas-Animais-Natureza, entende que se está a perder um momento histórico para o humanismo, para uma redefinição e rejuvenescimento da Europa. 

Uma Europa de paz, plural, pluricultural e de respeito pelo outro. 

A Comissão Política Nacional