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Economia: por uma mudança de paradigma

5%. Esta foi a taxa que sempre associei a uma economia de pleno emprego. Basicamente significa que, em média, 5% da população activa não consegue, pelas mais variadas razões, colocar-se no mercado de trabalho.

Vivemos muitos anos neste paradigma que continua a ser a base de raciocínio para todo o tipo de cálculos e conjecturas económicas.

No entanto, a evolução tecnológica representa actualmente uma séria pressão aos “socialmente aceites” 5% de desemprego.

A realidade é que todos somos diferentes. Por muito que se queira forçar, nem todos nascemos empreendedores, pensadores, solucionadores de problemas e muitos de nós temos competências profissionais cada vez mais ameaçadas pela tecnologia que coloca forte pressão sobre os trabalhos ditos “mecânicos” ou “automatizáveis”.

Imaginemos um cenário extremo em que tudo se poderia configurar num algoritmo, passando as máquinas a fazer rigorosamente tudo. 100% de desemprego? Toda a riqueza produtiva nas mãos dos proprietários da tecnologia? Produziriam para quem?

Logicamente jamais alcançaríamos tal cenário. Mas o caminho está a fazer-se e a ameaça é concreta. O aumento do desemprego estrutural, mais do que pressões económicas, cria pressões sociais relevantes.

O crescimento descontrolado da população mundial, aliado a uma esperança média de vida cada vez mais elevada são também factores de pressão relevantes. Estimativas credíveis apontam o ano de 2050 como sendo o do colapso de recursos vitais para a nossa sobrevivência, mantendo o actual padrão de consumo. Então, como resolver tudo isto?

Sendo totalmente inaceitável, a via mais fácil é, naturalmente, a de um conflito bélico à escala mundial. Estimula a poderosa indústria do armamento, provoca uma recessão tecnológica, gera emprego de forma significativa (restabelecimento pós-guerra) e reduz drasticamente o rácio entre humanos e recursos existentes.

A via mais complicada, porque implica uma consciência e sensibilidade globais das quais estamos ainda muito afastados (bem como a luta contra poderosos interesses instalados), consiste na redefinição absoluta do modelo económico vigente, da qual o lançamento de um imposto sobre a tecnologia é uma pequena parte. Mas implica também entender que o sistema actual, baseado num crescimento infinito assente em recursos finitos é um atestado de imbecilidade, passado a cada um de nós e do qual resultam a vida a “crédito” que vivemos, consumindo recursos que não existirão para gerações futuras, extinguindo massivamente outras espécies enquanto, paradoxalmente, nos autointitulamos de seres superiores e reguladores da vida na Terra, evidente que está que nunca lhe fizemos falta nenhuma.

Relevam para esta última via conceitos como o da economia circular, assente na maximização do reaproveitamento e reciclagem dos bens produzidos, contrastante com o actual cenário de produção intensiva de resíduos não reaproveitados, muitos deles com elevado valor económico por via da sua reutilização.

Mas também o rendimento básico incondicional, susceptível de garantir a todos um rendimento mínimo de subsistência que permitiria a satisfação de necessidades básicas de sobrevivência, partindo daí para uma modelo baseado na motivação e auto-realização, naturalmente traduzidas em índices muito mais elevados de produtividade, qualidade de vida, sanidade física e psicológica e, em última análise, aquilo que todos procuramos: felicidade.

A decisão está nas nossas mãos e passa pela urgente mudança de um paradigma vigente condenado ao fracasso e cujo preço a pagar parece não estar ainda muito enraizado no nosso pensamento.

Artur Alfama, membro da Comissão Política e Tesoureiro Nacional do PAN