Acredito que todas e todos nós concordamos que as nossas crianças e jovens são o futuro da nossa sociedade e, por esse motivo, depositamos nelas tanta esperança e expectativas. No entanto, o nosso desejo de que as novas gerações tragam consigo a perspetiva de um futuro melhor, tem de ser acompanhado por um conjunto de ferramentas que lhes permitam, efetivamente, fazer diferente do que até aqui tem sido feito.
Não é o que tem acontecido.
Quando falamos de progresso e de um futuro melhor para todos, temos que chamar à colação os conceitos de bem-estar e proteção animal e de preservação da natureza. Uma sociedade assente nestas premissas terá, necessariamente, de passar por uma sociedade mais empática, que respeita a natureza, que a acolhe e que olha para todos os seres de uma forma igualitária, sejam eles humanos ou não humanos.
E é por isso essencial permitir que as nossas crianças e jovens, desde cedo, contactem com os princípios de bem-estar animal e de proteção da natureza naquela que tantas vezes é a sua segunda casa e onde passam grande parte do seu dia: a escola. É nosso dever dar-lhes a possibilidade de construir uma sociedade que rasga o paradigma de “sociedade evoluída” com que temos vivido até aqui e elevar este conceito a um patamar superior.
Um importante passo neste sentido foi dado com a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 27/2016, de 23 de agosto, que no nº 1 do seu artigo 2.º prevê que é dever do Estado assegurar “a integração de preocupações com o bem-estar animal no âmbito da Educação Ambiental, desde o 1.º Ciclo do Ensino Básico”. Contudo, parece não existir vontade política suficiente que conduza à implementação de medidas que façam cumprir este dever. Esta falta de vontade por parte dos nossos decisores políticos é bem visível quando nos confrontamos com o documento que formaliza a Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania, que está dividido em três grupos de diferentes domínios da educação para a cidadania e percebemos que o Bem-Estar animal surge num grupo de implementação meramente opcional.
Deixo a questão: como é que podemos exigir às nossa crianças e jovens que construam uma sociedade melhor e mais justa, alicerçada em princípios progressistas e visionários, se lhes damos, constantemente, sinais contraditórios e lhes dizemos que a literacia animal e ambiental, embora essenciais, são dispensáveis e… opcionais?