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Mobilidade para Zero Waste

Esta semana assinalou-se duas datas com um significado muito próximo das convicções do PAN. O Dia Europeu sem Carros, que pretende alertar para a necessidade de se apostar e investir em meios de transporte mais sustentáveis, e o Dia Europeu da Agricultura Biológica.

Sobre o primeiro tema, já tenho aqui, neste espaço, me manifestado quanto à urgência da descarbonização e na necessidade de se apostar em transportes mais sustentáveis e em “novas” formas de mobilidade, como a mobilidade suave. Relativamente ao segundo tema, é um assunto, também, já antigo, mas que continua a estar na ordem do dia, pela necessidade em reverter os padrões de produção e consumo alimentar.

A inovação tecnológica da produção de alimentos em larga escala e a capacidade de conservação por longos períodos de tempo, através da refrigeração, permitiram alterar o paradigma da produção, transporte, comercialização e consumo, mas não deixou de contribuir para o desperdício alimentar.

O fenómeno do desperdício alimentar e as questões de sustentabilidade que se colocam, nas suas múltiplas esferas, devem ser avaliados à escala global. O transporte é uma das principais causas de desperdício alimentar, estimando-se que cerca de 14% dos alimentos produzidos em todo o mundo ficam impróprios para consumo no decorrer desse processo. Nos Estados Unidos ascende a 26%,
representando mais de 57 milhões de toneladas de alimentos estragados, por ano.

Vimos a assistir a um progressivo distanciamento humano em relação aos alimentos na sua vertente productiva, também em reflexo da globalização na cultura alimentar. Mas os fenómenos recentes, à escala mundial, têm despertado a consciência coletiva para a dependência das importações e do quão vulneráveis estamos perante as cadeias de produção e abastecimento externo.

O agravamento dos períodos de seca que se vive um pouco por toda a Europa (e não só) e a guerra na Ucrânia, vieram acentuar a necessidade de se alterar os padrões de produção agrícola, a montante, e a sua comercialização, a jusante.

As quebras nas cadeias de abastecimento e o aumento nos custos do transporte têm já surtido grande peso no esforço orçamental das nossas famílias e já provocam mudanças nos hábitos de consumo e procura de alternativas economicamente mais acessíveis.

É preciso fomentar as produções agrícolas alternativas. É necessário retomar a produção alimentar de proximidade, com respeito pelos productos da época, e assente no modo de produção biológica. Já em 2021, o PAN/Açores conseguiu introduzir no Plano Regional Anual a certificação e formação gratuitas para o modo de produção biológico, a ser providenciada por técnicos da Secretaria Regional da
Agricultura, a quem pretenda enveredar por modelo productivo.

É incompreensível que os alimentos que consumimos viajem cerca de 5 mil quilómetros até chegarem à nossa mesa. É insustentável a pegada ecológica proporcionada por esta comercialização e tornar-se-á incomportável, também, em função dos custos que acarreta.

A reconversão para agricultura me modo de produção biológica permite honrar os compromissos agroambientais e garante mais benefícios para a nossa saúde. Que nos mobilizemos nesse sentido.