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Pedro Neves - Opinião AO

Os oceanos abrangem cerca de 70% da superfície do Planeta, são o lar de 80% da vida, produzem 50% do oxigénio que necessitamos, absorvem 25% das emissões de dióxido de carbono e captam 90% do calor gerado por essas emissões. São os “pulmões” do planeta e o maior depósito de carbono, são fulcrais na mitigação das alterações climáticas.


Os oceanos são fonte de alimento de uma biodiversidade inimaginável – sobretudo se considerada a que vive no mar profundo e que ainda nos é desconhecida, produzem alimento, geram emprego, possuem recursos minerais e energéticos necessários à vida, desempenhando uma importante função de regulação do clima e atmosfera.


Porém, os oceanos travam a maior batalha da história devido à ação do animal humano, nomeadamente a sobrepesca, pesca ilegal, pesca acessória e produção de lixo marinho. Para além do fantasma da mineração do mar profundo, o último reduto da intervenção humana no ambiente.


Os oceanos estão doentes! Assistimos à acidificação dos oceanos, falta de oxigénio nos Oceanos – existem zonas mortas nos oceanos, obrigando os animais não humanos a uma migração vertical na coluna de água, facilitando a sua captura, voluntária ou acidental, aumentando a concentração de animais aquáticos, escasseando o alimento disponível, aumentando a luta pela sobrevivência. Este fenómeno migratório facilita a captura dos animais, sobretudo com uma espécie que nos é muito querida: os tubarões.


Daí, a urgência de proibir a prática comercial de certas atividades piscatórias, criar modelos sustentáveis de Áreas Marinhas Protegidas, zonas de proibição de realização de qualquer atividade extrativa – zonas de “no take”, sobretudo como forma de impedir a mineração do mar profundo.

Se há coisa que os Açorianos/as não devem querer é a mineração do «Mar dos Açores» – as nossas fontes hidrotermais são altamente apetecíveis aos “saqueadores” de metais raros, sob pena de inviabilizarmos todas as formas de vida marinha que compõem a nossa riqueza, o nosso património natural azul, este é nosso capital! Além de que estaremos a aditar uma nova patologia à vida marinha e não a percorrer o caminho inverso pelo qual hoje se grita a plenos pulmões: #SaveTheOcean!

Discutir a urgência em salvar os oceanos e apresentar a mineração como setor determinante para a Economia Azul é pura hipocrisia. São impraticáveis, uma ação destrói a outra. Atrevo-me a dizer que a mineração pode inviabilizar quase todos os setores da Economia Azul.

Posto isto e um dia após o término da Conferência dos Oceanos, resta-nos questionar: temos acordo para promoção de uma gestão sustentável dos oceanos? Vamos iniciar um novo capítulo na ação global oceânica, de forma concertada, e com soluções inovadoras, tendo por base os contributos científicos? Que soluções temos para a mineração do mar profundo, delapidação da biodiversidade, combate à pesca ilegal, sobrepesca, e lixo
marinho?

Um oceano de perguntas e um mar de respostas vazias.

Mas a ação local e regional também conta. Daí termos uma iniciativa legislativa para promoção da recolha do lixo marinho e artes de pesca em fim de vida.


Os Oceanos estão doentes e, com isso, toda a vida na Terra também.