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Eles matam tudo e não deixam nada

A bandeira preferida do setor da caça continua a ser a da “proteção” da biodiversidade e dos ecossistemas, justificando a atividade como uma necessária “correção no excedente populacional para garantir o equilíbrio das espécies e dos ecossistemas”.

Vamos aos factos.

Rola-comum

Rola-comum

De acordo com a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) e a Comissão Europeia [1], a população da rola-comum encontra-se em decréscimo em toda a Europa devido à perda de habitat, uso indiscriminado de fitofarmacêuticos e exploração cinegética excessiva

Em Portugal, a Coligação C6 alerta para a regressão populacional da rola-brava desde 1994, a qual apresenta uma diminuição de 80%, e de acordo com o estudo elaborado no âmbito de uma tese de Doutoramento[2], o período de caça à rola encontra-se sobreposto ao seu período reprodutivo em todas as regiões, incidindo principalmente na população nidificante, com 30% das rolas caçadas a serem abatidas quando se encontram a nidificar, pondo em risco a sobrevivência da espécie.

No entanto, a caça à rola-comum continua a ser permitida, contrariando as próprias recomendações da Comissão Europeia e das ONG da Coligação C6. A proposta do PAN no Parlamento para a interrupção da caça da rola-comum até que a população esteja estabilizada de forma evitar o desaparecimento da espécie foi rejeitada pelo PS, PSD, PCP, Chega, Iniciativa Liberal e CDS! 

Vão continuar a matar tudo e a não deixar nada!

Coelho-bravo

Coelho-bravo
Coelho-bravo

O coelho-europeu/coelho-bravo, é uma das espécies mais relevantes para a cadeia trófica de diversos predadores de topo do ecossistema mediterrânico, sendo a presa principal de mais de 20 espécies de aves e mamíferos, incluindo espécies ameaçadas, como por exemplo o Lince Ibérico[3].

Mas apesar de ser conhecido o decréscimo da população a níveis críticos em várias zonas do território – com um decréscimo estimado em cerca de 80% da sua população, segundo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) -, e apesar de constar na Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade para 2030 a necessidade de se tomar medidas para a sua proteção, nunca foi considerada a suspensão da caça a esta espécie.

Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza, o coelho-bravo passou do estatuto de “quase ameaçado” para “ameaçado de extinção”, na última atualização da Lista Vermelha da IUCN.

Mas mesmo estando a população de coelho-bravo neste nível crítico e, consequentemente, tantas outras espécies que destas dependem, a sua caça continua a ser permitida em Portugal. Mais uma vez, o PAN apresentou uma proposta para retirar o coelho-bravo da lista de espécies autorizadas para caça. Resultado óbvio: rejeitada por PS, PSD, PCP e CDS que votaram contra e Chega, Iniciativa Liberal e PEV que se abstiveram.

Vão continuar a matar tudo e a não deixar nada!

Montarias

E se dúvidas ainda existissem, o episódio da recente chacina na Torre Bela dissipou-as. 540 animais abatidos a tiro para bel-prazer dos participantes de uma montaria turística, tal como se verifica nos bilhetes que continuam disponíveis para eventos deste género, incluindo no nosso país. Mais uma vez, o que está em causa não é a salvaguarda da biodiversidade, bem pelo contrário, com veados, gamos, javalis e outras espécies a serem criadas e mantidas em terrenos destinados apenas a estes eventos e, posteriormente, cravadas com chumbo sem qualquer hipótese de fuga. O controle do número de animais caçados é também inexistente.

Pela urgente necessidade de regulamentar este modo de caça e garantir que existem meios e recursos para o fiscalizar – o que atualmente não existe! – o PAN apresentou uma iniciativa para a suspensão das montarias. Rejeitada pelo PS, PSD, PCP, CDS, PEV, Iniciativa Liberal e Chega.

Vão continuar a matar tudo e a não deixar nada!

A inexistência de censos

Por fim, como se pode continuar a abanar a bandeira da proteção da biodiversidade e do controle populacional quando temos uma total ausência de censos das populações de cada espécies? Sim, o PAN também apresentou uma iniciativa nesse sentido, para a realização de censos e monitorização das espécies sujeitas a exploração cinegética. Rejeitada pelo PSD, PS, CDS e PCP, ainda com a abstenção do PEV!

É urgente uma REVISÃO DA LEI DA CAÇA. No PAN, vamos continuar a trabalhar neste sentido!

Até lá, eles vão continuar a matar tudo e a não deixar nada!

[1] 1 Fisher I, Ashpole J, Scallan D, Proud T and Carboneras C (compilers) (2018) International Single Species Action Plan for the conservation of the European Turtle-dove Streptopelia turtur (2018 to 2028). European Commission

[2] Dias, S. (2016). Critérios para a gestão sustentável das populações de rola-brava [Streptopelia turtur(L.)] em Portugal. Padrões de abundância, reprodução e pressão cinegética. TESE APRESENTADA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM ENGENHARIA FLORESTAL E DOS RECURSOS NATURAIS. Instituto Superior de Agronomia. Lisboa

[3] Mira, A., Galantinho, A., Encarnação, C., Carvalho, C., Costa, M., Alcobia, S., 2007, Relatório Técnico e Financeiro Final, Acção D6 – Medidas de Fomento de Habitat para a Fauna em Zonas Abrangidas pelo regime cinegético, Gestão Activa e Participada do Sitio Monfurado, Universidade de Évora