PAN

Sonhar e concretizar uma outra realidade

Começo por pedir que me acompanhes nas seguintes questões. Se pudesses alterar a realidade atual, o que farias?

Qual o papel da atividade política nessas mesmas alterações?

Se já sentiste a desigualdade ou a injustiça para contigo ou para com outros, que aspetos consideras que podem ser alterados pela via política com vista a romper com desigualdades e injustiças?

De uma maneira geral, foi a procura de respostas a estas questões que me levou a juntar-me ao PAN em 2011. Acresce-lhe o facto de considerar que a atividade política é essencial e corresponsável pela construção e desenvolvimento da sociedade.

Antes de fazer parte deste projeto, sempre procurei participar e contribuir para a alteração de um certo status quo com vista à procura de melhores soluções. Escrevo estas palavras depois de, ao princípio da noite, ter recolhido algum lixo da praia onde me encontro a usufruir de uns dias de descanso.

Aliás, tenho vindo a repensar alguns provérbios populares, nomeadamente de “na terra onde fores ter, faz como vires fazer” para um mais ativo “na terra onde fores ter, observa e compreende o que vires fazer e faz o que deveria acontecer”.

Obviamente que podem surgir choques culturais e políticos e talvez para os evitar tenha procurado fazer a recolha do lixo quando a praia já estava quase vazia. Mas de que maneira esses eixos nos devem influenciar? A cultura deve ser aceite e promovida na condição de ser benéfica, de não causar sofrimento a outrem e de não apoiar práticas violentas naquilo que possa ser considerado um mundo desenvolvido e progressista. A atividade política deve servir para assegurar que o caminho que percorremos enquanto freguesia, município, país (embora prefira comunidade), é aquele que queremos que nos pontue e nos conduza ao local que pretendemos nos mais diversos temas.

O que eu gostaria de conseguir alterar com vista a criar uma outra realidade? Gostaria de construir uma sociedade onde se promovesse a empatia e a não violência, a cidadania e a participação cívica. Onde se protegessem os mais vulneráveis e “desempoderados” sejam eles pessoas, outros animais ou a própria natureza. Onde se repensasse estruturalmente o trabalho e os modelos socioeconómicos vigentes, com vista a romper com desigualdades sociais e a caminharmos para uma sociedade igualitária, onde as diferenças existem e são respeitadas. Onde não nos vemos categorizamos por grupos e rótulos e onde há o direito ao usufruto do tempo livre e à capacidade de pensamento global, com a noção de que as fronteiras são criações humanas e que a Terra, a nossa casa, é de todos no usufruto e no cuidado.

O que a atividade política pode fazer por esses objetivos? Sem descurar o papel do ativismo nas causas que defendemos, das ações de sensibilização ou mesmo da persuasão e da propaganda, a sedimentação das diversas conquistas que vão sendo logradas passa obrigatoriamente por estas serem vertidas para a legislação e de alguma forma integradas nos curricula educativos. Pode-se assim garantir que, passadas gerações, aquelas conquistas venham a adquirir o estatuto de práticas culturais.

Se já me senti discriminada em Portugal? Inevitavelmente a nossa mente tende a organizar os assuntos por associações, tendo em conta aquilo que já conhece e a forma com tem sido treinada para o fazer e, nesse sentido, haverá grupos em que me associam como mulher, de 31 anos, residente na freguesia de Lordelo do Ouro no Porto, nascida na Freguesia da Sé, como branca, europeia, portuguesa, com um mestrado nas suas habilitações literárias, que participou em vários intercâmbios internacionais, entre outras classificações. Tudo isso serve para outros me identifiquem e me possam tratar ou não com determinados preconceitos.

Esta é uma escolha pessoal mas também política. Estou a pensar, por exemplo, no acesso do grupo mulheres (claro que estou aqui a ignorar outros factores e variáveis) ao mercado de trabalho, que foi uma luta longa e no dia-a-dia sente-se ainda que muitas mulheres acumulam o seu trabalho com o doméstico (a menos que tenham condições económicas para poder atribuir este trabalho a outrem) o que as impede de ter igual participação cívica e política.

E se vos disser que em 2016, no total de pessoas que desempenham cargos políticos na União Europeia, apenas 29% são mulheres? Ou que em termos de cargos de liderança em grandes empresas europeias, as mulheres representam apenas 23%?

A ação política deve servir para promover modelos positivos, encontrá-los e desenvolvê-los, se ainda os não houver, e acautelar situações de discriminação e justiça, mesmo que subtis, apostando por exemplo na prevenção por via educacional. É preciso a cumplicidade de todos e todas para desconstruirmos as estruturas de opressão e fazermos escolhas acertadas, mesmo as políticas, pois igualdade conduz à igualdade.

1 de setembro de 2017

Bebiana Cunha, membro da Comissão Política Nacional e candidata à Câmara Municipal do Porto