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Todos diferentes, todos iguais e siga a roda…

Imaginem por um momento que são accionistas de uma empresa privada de produção de energia eléctrica renovável eólica (não me ficaria bem que fosse a carvão) ou até de peças sanitárias e me apresento indicada por uns amigos para futura CEO.

A questão lógica de quem colocou o pão no forno, quem não o quer ver esturrado e aspira ao milagre da sua multiplicação é simples: o que é que este espécime entende de ventoinhas, mercado energético e matérias afins ou de chuveiros e bidés, certo?

Nada mais correcto e, como tal, era bem possível que aqueles abutres, em plena assembleia de accionistas, sobretudo se eu não tivesse provas dadas ou não levasse em mão um plano estratégico com pés e cabeça, com a garantia de lhes meter grana no bolso e, já agora, que o soubesse defender das investidas dos experts, me mandassem dar uma volta. Estamos de acordo?

Bom, se o cargo em causa for público, vai de retro pois então aí o caso já muda de figura. Sim, não sejamos mais papistas que o papa, problema resolvido e que se lixem os pergaminhos, porque isto de tomar posse num cargo dirigente sob a alçada do Estado traz sempre consigo uma verdadeira epifania que torna ministros, secretários, directores gerais, presidentes de conselhos de administração e outros
quantos mais em verdadeiros iluminati. À distância de um click.

É o que sucede ipsis verbis e a diário no sector empresarial do Estado, do qual até somos accionistas, pois despejamos ali os nossos impostos, mas, calma lá, sem voto nem regras na matéria quando se trata de escolher quem quer que seja. Podemos ficar tranquilos porque é só a democracia a funcionar com a tal “normalidade”.

Assim, a qualquer ave rara, para ocupar aquele poleiro, basta-lhe estar indicado por uma outra assembleia, a de fiéis seguidores da família ou famílias que naquele momento conduz ou conduzem os nossos destinos, o partido ou os partidos, habitualmente nas suas concelhias ou não estivessem elas a rebentar de ilustres sapiências e não fossem elas as mais habilitadas para aquele fim.

Ora na verdade temos um problema. Escolher um qualquer individuo é um autêntico tiro aos pratos de olhos vendados e, por isso, também um autêntico exercício de fé. E ou o chumbo acerta ou passa ao lado. Às vezes a sorte protege os audazes e o disparo corre bem, mas isso é irrelevante pois mesmo que a coisa dê para o torto, estourar todos os cartuchos sem acertar no diabo de um prato é uma mera ironia do destino.

Paciência. Resultado prático: mesmo que uma qualquer empresa pública se transforme num Titanic o contribuinte assiste, paga e cala e ninguém leva um valente tabefe pela escolha desastrosa ou pela gestão danosa. Isto é Portugal no seu melhor e qualquer comparação com os Açores é apenas pura e infortuna coincidência.

O mais surrealista é que a mudança de cadeiras naquela imaculada casa onde os puritanos supostamente falam em nome do povo tolda-lhes a mente e com a espuma do tempo a malta fica baralhada e entra numa cega espiral de contradições.

Que o digam aqueles que apregoam aos quatro cantos o acesso por curriculum e concurso a lugares de direcção no sector empresarial do Estado, mas que, quando se vêem de ceptro na mão, mantêm o status quo, porque quando se trata de cozinhar estas atribuições, a tradição dos ingredientes e do apego ao tacho ainda é o que era. Todos diferentes (na cor), todos iguais (a esborratar a pintura), não é
verdade? Siga a roda….