Ambiente

Lixo, Lixo e Sempre Mais Lixo em Odivelas

Nós já nos habituamos a uma imagem que apesar de rotineira cansa sempre que a vemos. Pegamos no nosso lixo e fazemos uma caminhada até aos contentores, chegamos lá e deparamo-nos com contentores a abarrotar e imensos sacos do lixo no chão. É particularmente comum quando falamos dos ecopontos espalhados pela cidade. Esta é uma imagem que em Odivelas, já nos fomos habituando.

Neste momento porém, temos outra que nas últimas semanas tem sido habitual. Chegamos aos contentores e eis senão quando, nos deparamos com contentores vazios e imensos sacos de lixo no chão. Pois bem, este é o cenário em que temos vivido nos últimos anos.

Sempre que questionada, a Câmara Municipal de Odivelas tem sempre a mesma desculpa, “é gente pouco civilizada” ou “não existe civismo comunitário”. O que é verdade é que junto da casa do senhor presidente da Câmara este cenário não existe, e por isso é normal que o executivo pouco ou nada tenha feito para corrigir este crime ambiental.

Outra desculpa o PAN já ouviu em plena Assembleia Municipal “é muito difícil ser Presidente de Câmara e gerir os SIMAR”. Pois, sem dúvida que sim, mas é o trabalho para o qual o senhor Presidente se candidatou. E os SIMAR, quer se queira quer não, é uma empresa intermunicipal pública e que necessita quer de recursos apropriados, quer de uma estratégia ambiental séria.

Odivelas é um concelho que se quer dinâmico e à frente do seu tempo, e que de facto seja a “Terra das Oportunidades”. Precisamos de ecopontos a cada 100 metros de distância entre si, bem como contentores do lixo, precisamos de maior frequência de recolhas, precisamos de ter contentores subterrâneos com o devido isolamento para não existir contaminação dos lençóis de água, precisamos deixar de fazer limpeza urbana com químicos tóxicos como glifosato ou outros produtos sintéticos, precisamos de ter corredores verdes para pássaros e insetos polinizadores, precisamos de dar mais investimentos às feiras e mercados municipais do nosso concelho. Enfim, temos de ter uma estratégia ambiental séria e que esteja de acordo com as evidências científicas que temos ao nosso dispor hoje em dia. Não podemos continuar a enterrar a cabeça na areia e achar que podemos governar um concelho sem lidar com este tema.

As autarquias locais, com o processo de descentralização em vigor, vão ganhar uma importância cada vez maior na vida das pessoas. Vão ter mais autonomia, mais dinheiro, mais responsabilidade. E serão sem dúvida a primeira linha de combate a futuras pandemias. É inegável que o impacto que temos a nível ambiental, tem impacto directo na nossa saúde. Vimos isso com a gripe aviária, vimos com a doença das vacas loucas, vimos com a gripe suína, vimos com a covid-19, etc, etc. Enterrarmos a cabeça na areia, como de resto o Partido Socialista em Odivelas teima em fazer com assuntos estruturantes, não dá bom resultado.

Então pensemos adiante e façamos a pergunta, como queremos viver o concelho daqui a 10 anos? Será que queremos continuar a ter lixo até aos joelhos? Será que queremos continuar a ter níveis de poluição bastante elevados? Ou será que queremos poder ter uma qualidade de vida digna? Estas são as perguntas às quais o PAN dá uma resposta clara e evidente. Temos de ter um pólo próprio de gestão de resíduos urbanos em Odivelas, temos de criar locais exclusivamente pedonais e cicláveis, temos de apostar fortemente no comércio local e deixar de privilegiar as grandes superfícies, temos de poder ter bons transportes públicos internos, temos de ter programas de hortas comunitárias e de incentivo à agricultura biológica local. Em suma, temos de ser uma cidade verdadeiramente do século XXI e deixar uma mentalidade de governação que já não tem lugar no mundo de hoje.

Talvez seja esse o maior obstáculo que temos de ultrapassar como sociedade. As políticas de ontem não funcionam no mundo de hoje, e será necessária uma classe política mais próxima dos cidadãos e com ideias para o amanhã. Porque não esqueçamos qual o nosso papel, deixar um mundo habitável para a próxima geração, já nem é deixar um mundo melhor do que aquele que encontrámos, nada disso, já estamos noutro nível de crise, temos de deixar um planeta habitável, respirável, saudável.

Temos cada vez mais de ter governantes com atributos e sensibilidades muito diferentes dos que temos tido até hoje, esses já não funcionam, esses já são obsoletos. 

A pergunta é simples de fazer mas difícil de responder.

Se sempre nos queixamos dos que estão, então porquê continuar a elegê-los?

Essa é a reflexão que como sociedade temos de fazer e a resposta é simples, medo da mudança e comodismo no que conhecemos. Mas o que nos é familiar trouxe-nos até aqui, e o aqui põe em causa a continuação da nossa espécie bem como a de tantas outras. O que nos é familiar está a matar-nos, o que nos é familiar vai-nos destruir. Quanto a vocês caros leitores não sei, mas quanto a mim não gosto de viver rodeado de lixo, lixo e sempre mais lixo.

Odivelas, 17 de junho de 2020

Deputado Municipal do PAN em Odivelas, Nelson Silva