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Mais um passo em prol da saúde dos açorianos 

Pode afirmar-se, em termos de medidas em saúde, que uma das principais conquistas para os açorianos foi aprovação por unanimidade da iniciativa do PAN que conduzirá à execução do rastreio para o cancro do pulmão. 

Inovador na região, a nível nacional e mesmo europeu, os objectivos eram claros e cumpriam as basilares promessas eleitorais do partido em termos de políticas em saúde. 

O cancro do pulmão é a doença oncológica responsável pelo maior número de mortes, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde e Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde de 2022.  

Os novos casos de tumores malignos do pulmão nos Açores são o dobro dos registados nas restantes regiões de Portugal. Dados recentes apontam para 97 casos anuais por 100.000 habitantes.  

Em 2019, um terço de todas as mortes em Portugal foi atribuído a fatores de risco comportamentais, entre eles o tabagismo, a principal causa do cancro de pulmão em Portugal e no Mundo.  

Estima-se ainda que, em 2019, tenham ocorrido, em Portugal, cerca de 14 mil óbitos atribuíveis ao tabaco, com uma prevalência cinco vezes mais elevada entre os 15 e os 64 anos de idade. 

Segundo os dados oficiais de 2019, nos Açores cerca de 21% da população com 15 ou mais anos consome tabaco diariamente.  

Infelizmente, a despesa pública dirigida para a prevenção no âmbito da saúde em Portugal está entre as mais baixas da UE. 

Sendo um problema inquietante de saúde pública deve ser alvo de investimento ao nível da prevenção, através da literacia para a saúde, da dissuasão, incluindo o agravamento tributário do tabaco e detecção precoce, através do rastreio. 

O aumento da tributação é uma oportunidade para implementar políticas intersectoriais saúde pública, visando o controlo do elemento passível de modificação na equação, neste caso o tabaco, o causador da maior e da mais evitável carga de doença e morte prematura da população açoriana.   

Em 2020 a Sociedade Portuguesa de Oncologia, Pediatria, Pneumologia, Associação de Médicos de Saúde Pública e Ordem dos Farmacêuticos e Enfermeiros solicitaram o agravamento fiscal de produtos de tabaco. É uma opinião partilhada por alguns médicos especialistas na região que, a propósito da iniciativa, a tornaram pública.   

O texto mereceu, em sede de Comissão, a concordância por parte dos especialistas e da Delegação Regional da Ordem dos Médicos, sendo unanime que o rastreio se traduz em ganhos para a saúde pela diminuição de mortes associadas numa dimensão de mais de 20%! 

O rastreio deve ser efectuado por meio de TAC de baixa radiação e a população elegível é, por norma, a de fumadores entre 50 e 80 anos que consomem 15 ou mais cigarros/dia durante mais de 25 anos ou 10 cigarros/dia durante mais de 30 anos ou ser ex-fumador há mais de 10 anos e ter os critérios anteriores. 

Por vivermos numa região com dispersão geográfica que pode dificultar o rastreio, é fundamental o investimento em aparelhos de TAC em todas as ilhas. Um aparelho de TAC por ilha foi já um desafio, para uma Via Verde Regional do AVC e uma promessa nunca cumprida que urge, agora e finalmente, concretizar, visto o rastreio ser um desejo assumido por todos os partidos e pelo governo, tendo como testemunha o povo açoriano.