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Via verde para a inoperância: Onde está a TAC?

Pedro Neves - Opinião AO

É conhecida e reconhecida a resiliência dos florentinos que pelas intempéries que frequentemente assolam esta zona do nosso arquipélago, ficam ainda mais confinados à insularidade e à mercê de si mesmos. Ainda esta semana testemunhei as consequências provocadas pela passagem destas intempéries, a propósito da visita ao Porto das Lajes, no âmbito do Grupo de Trabalho “Furacão Lorenzo”.

Aproveitando a minha estadia, reuni com algumas entidades e visitei alguns serviços desta ilha para me inteirar das potencialidades, mas também dos problemas que os habitantes do território mais ocidental da Europa enfrentam, principalmente no acesso a bens e serviços.

Em respeito ao acesso a serviços e cuidados de saúde, constatei que a Unidade de Saúde da ilha das Flores apresenta muitas carências, desde profissionais de enfermagem, médicos especialistas, a assistentes operacionais. Mas a falta mais sintomática prende-se, sobretudo, na vontade política em reverter este défice de recursos humanos e materiais.

O incumprimento do rácio recomendável entre número de habitantes e número de profissionais de saúde torna-se ainda mais grave quando falamos de uma ilha fixada numa região ultraperiférica, sujeita a condições meteorológicas particulares que poderão limitar a capacidade de evacuação e onde não são prestados cuidados de saúde continuados.

E porque um mal nunca vem só, soma-se ainda a isto o desinvestimento em meios de diagnóstico e terapêutica. A inexistência, à data, de um aparelho de TAC nesta unidade de saúde, quando a proposta do PAN para alargamento da Via Verde do Acidente Vascular Cerebral a toda a Região foi aprovada, por unanimidade, há mais de um ano, é sintomático da inoperância e desatenção governativa, ao passo que esvazia o propósito e o conceito da Via Verde.

Outro diploma que padece do mesmo mal, é o referente à atribuição do subsídio de risco aos Bombeiros. Volvido mais de um ano da sua aprovação, o Governo Regional continua a protelar a sua execução e os bombeiros à espera que este meritório extra lhes surja na folha de vencimento.

Andamos nós numa espécie de brincadeira semelhante ao “Onde está o Wally?”, mas com o reverso pernicioso de que, nestas questões, não se trata de um jogo, mas da vida das pessoas.

Entre 2011 e 2021, a ilha das Flores perdeu 9,6% da sua população residente. Se a inoperância e desatenção governativa para com esta ilha tornar-se numa doença crónica, é expectável que não se reverta esta tendência.

É desonesto que se fale na necessidade de combater a desertificação e reverter o decréscimo populacional, principalmente nas ilhas de menor dimensão, mas não se invista em matérias tão basilares como o acesso a serviços de saúde de qualidade e proximidade.

E ao contrário das intempéries, que com a sua convivência produzem habituação, e em muitas situações não está na nossa capacidade ou alcance ameniza-las, nunca nos poderemos habituar ou compactuar com a inoperância governativa e o impacto que esta inação, quando crónica, produz na qualidade e condições de vida dos açorianos.