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CPI: Comissão Parlamentar de Inquérito ou Circo Político Impróprio?

Nos últimos anos temos sido presenteados com um rol de Comissões Parlamentares de Inquérito. Quem não se recorda das audições proporcionadas pela CPI à gestão da Caixa Geral de Depósitos ou da CPI sobre Tancos e o furto rocambolesco de material militar?!

Por estas paragens, e apenas na presente legislatura, contamos já com três Comissões de inquérito Parlamentar. Duas já decorridas – CPI à gestão das Agendas Mobilizadoras e CPI à conceção de avales a empresas Privadas – e a terceira foi aprovada no plenário passado e versa sobre as contas do Grupo SATA.

Este tem sido um mecanismo democrático ao qual os partidos se socorrem cada vez mais para fazer valer o escrutínio público da ação e gerência governativa. Mas o que se prevê ser um instrumento de fiscalização do Parlamento, que tem como função vigiar e apurar o cumprimento legal e constitucional da ação governativa e da administração pública, tem-se tornado, amiúde, num espaço prolífero ao arremesso político e digladiação partidária, retirando lugar ao cumprimento do seu real propósito: o esclarecimento cabal dos factos e imputação de responsabilidades.

Se, depois das conspícuas declarações de Joe Berardo na CPI da CGD, julgaríamos não ser possível haver maior circo político, eis que surge a CPI à Tutela Política da Gestão da TAP, que tem levantado o véu a um universo, com cada vez mais subcamadas e actores, de situações e acontecimentos caricatos e indecorosos (e adjectivo assim, de forma muito cortês face a dimensão e gravidade dos alegados acontecimentos).

Há muito que esta CPI da TAP deixou de incidir e centrar-se em matéria de interesse publico relevante. Está completamente desvirtuada e desfocalizada do mote que lhe deu origem.

Há muito que as CPI se tornaram num ambiente propício à proliferação de fait-divers, mas a que agora decorre, sobre uma pasta/empresa determinante para o país, atingiu o pináculo do sensacionalismo, agravando o descrédito nas instituições públicas e retirando, ainda mais, confiabilidade às principais figuras políticas e prestígio aos cargos que ocupam.

Destas comissões de inquérito extrai-se mais material para programas de comédia do que para o cabal apuramento da verdade, com eventual encaminhamento para as instâncias judiciais.

Quando o “não sei” e o “não me recordo” são expressões costumeiras e revelam-se como denominador comum a muitas audições das CPIs, dificilmente se consegue extrair conclusões capazes de estabelecer nexos de causalidade na ingerência pública e imputar responsabilidades.

A utilidade de inquéritos destes é a de esclarecer os representantes do povo e capacitar a opinião pública com ferramentas de pressão suficientes para se evitar, no futuro, a repetição do festim de “enterrar” dinheiro público e da complacência das entidades que deviam zelar pelo interesse colectivo, mas estas Comissões têm resultado mormente na retirada do prestígio das instituições públicas e dos seus principais intervenientes.